Pampulha Patrimônio Imaterial - Festa de Iemanjá

Descritivo

Reconhecida em outubro de 2019 como Patrimônio Cultural de Belo Horizonte, pelo Conselho Deliberativo do Patrimônio Cultural do Município (deliberação nº 086/2019), a Festa de Iemanjá é realizada anualmente desde 1953 e possui uma relevância histórica para os adeptos das celebrações do Sagrado afrobrasileiro na capital mineira.

Monumento a Iemanjá, Lagoa da Pampulha, Belo Horizonte
Acervo Belotur

A cerimônia, que ocorre sempre no sábado mais próximo ao dia 15 de agosto, é de grande importância para os adeptos do candomblé e da umbanda, pois marca o seu calendário anual de celebrações e revela o sagrado no espaço urbano. Próximo à Praça Dalva Simão, que compõe o Conjunto Moderno da Pampulha, a Festa de Iemanjá é destinada à reverência à orixá Iemanjá e à água, pela qual a vida flui e se faz caminho.

O culto à Iemanjá tem origem africana e foi difundido nas Américas pelos povos negros escravizados, tendo sido estabelecido, sobretudo, nos candomblés de nação Ketu. Seu nome, de origem ioruba (“Yèyéomoejá”), significa “mãe cujos filhos são peixes”. Desta forma, entende-se que seu culto não se limita à região litorânea.

Cabe lembrar que, no Brasil, essa orixá também recebe outras denominações, como: Janaína, Rainha do Mar, Sereia do Mar, Senhora do Aiocá e Inaê, entre outras. Nas culturas da diáspora africana, Iemanjá é, sobretudo, uma divindade composta de múltiplas referências. Sua figura é embasada no arquétipo de ‘Grande Mãe’, sendo uma das divindades mais cultuadas no nosso país.

A Festa de Iemanjá, enquanto acontecimento público, possui importância social para a cidade de Belo Horizonte, no tocante à discussão sobre o espaço público. Isto porque o projeto original do Conjunto Moderno da Pampulha, inaugurado na década de 1940, não previa um espaço para manifestações do Sagrado das religiões de matrizes africanas. A resistente ocupação e a permanência dos adeptos da umbanda e do candomblé, há quase sete décadas, para expressarem ali os seus modos de vida, atribuiu novos sentidos e significados para um espaço tradicional da cidade, ainda que o mesmo não tenha sido pensado para aquele fim.

A Festa de Iemanjá marca um processo de transformação de sentidos de lugar e contribui para a apropriação plural e democrática do espaço público. Um fato representativo deste processo é a instalação da imagem de Iemanjá na Lagoa da Pampulha, em 1982, e o assentamento do Portal da Memória, obra de autoria de Jorge dos Anjos, em 2007, no largo diante da estátua. A estátua, por sua vez, foi restaurada em 2017.

Monumento a Iemanjá, Lagoa da Pampulha, Belo Horizonte
Ricardo Laf / Acervo PBH

O Portal que emoldura a imagem Iemanjá é um contraponto à árvore do esquecimento na África e celebra a cultura dos negros trazidos à força para as Américas, da qual a Festa de Iemanjá é expressão. A Festa de Iemanjá, como Patrimônio Cultural para cidade de Belo Horizonte, é reconhecimento da contribuição da cultura de matriz africana para a formação cultural da cidade, que também foi construída material e simbolicamente pelo povo negro, fazendo desta cidade múltipla em memórias, histórias e sentidos.

Apesar de o Dia de Iemanjá ser 2 de fevereiro, em Belo Horizonte, por causa do sincretismo religioso, a festa é realizada todos os anos em agosto, sempre próximo ao dia 15, quando é celebrada Assunção de todas as Nossas Senhoras e de Nossa Senhora da Boa Viagem, padroeira da capital mineira.